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Honda tira CBR 500R de linha no Brasil; entenda os motivos

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06/04/2019 08h00

Com vendas em baixa, esportiva bicilíndrica de 500cc não será mais fabricada

Lançada durante o Salão Duas Rodas 2013, a esportiva Honda CBR 500R chegou às lojas no final daquele ano. Desde então, a esportiva "racional" da marca japonesa não conseguiu repetir o sucesso de vendas das suas irmãs naked CB 500F e crossover CB 500X nem de longe. Seu relativo "fracasso" fez com que a Honda tirasse o modelo de linha agora em 2019.CBR 500R chegou ao Brasil em duas versões – ABS e standard – no final de 2013

Em nota, a Honda afirma que "ao longo dos últimos anos, notamos uma tendência com o direcionamento do interesse em modelos esportivos se concentrando na linha de alta cilindrada com grande performance e tecnologia. Neste sentido, a estratégia da Honda será direcionada neste segmento aos modelos CBR 650F, modelo que representa todo o DNA da marca e a magia dos quatro cilindros e da CBR 1000RR Fireblade que traz em sua mais recente atualização o conceito de Controle Total".

Mas não foi apenas o desempenho do motor de "apenas" 50,4 cv que prejudicaram as vendas da CBR 500R por aqui. Entenda os motivos que levaram a Honda a tirar o modelo de linha.

Vendas baixasEm quase seis anos, foram vendidas 5.979 unidades da CBR 500R

Nesses cerca de seis anos no mercado, a CBR 500R vendeu 5.979 até março deste ano, um volume baixo para uma fábrica do porte da Honda. Em 2016, o modelo passou por uma reformulação visual e ganhou grafismos e cores mais ousados, além de um conjunto óptico duplo com faróis de LED. As suspensões também mudaram, ganhando novo acerto e ajuste na pré-carga da mola do garfo dianteiro telescópico convencional.Em 2016, design ficou mais esportivo, mas desempenho não mudou

Apesar das mudanças, a CBR 500R continuou "vendendo mal". Em 2017, por exemplo, o modelo emplacou somente 630 unidades, menos até mesmo do que a CBR 650F (693 unidades), uma esportiva de quatro cilindros e 90 cv de potência. Está aí um dos motivos para a Honda apostar nas esportivas de maior cilindrada. Quem procura uma moto desse segmento, quer desempenho a altura e isso a CBR 500R não entregava.

Desempenho x visualMotor bicilíndrico produzia 50,4 cv a 8.500 rpm

A CBR 500R nunca fez jus ao "R" de Racing, letra que a Honda normalmente usa em suas superesportivas. A justificativa era que as linhas da carenagem integral do modelo herdaram o DNA da família CBR, formada pela CBR 1000RR , estas sim esportivas puro-sangue.Posição de pilotagem era mais esportiva que o desempenho

O discurso do departamento de marketing, entretanto, esbarrava no comportado motor bicilíndrico de 471 cm³, duplo comando no cabeçote, quatro válvulas por cilindro e refrigeração líquida, que foi projetado para ser econômico e entregar potência de forma linear: produzia apenas 50,4 cavalos a 8.500 rpm. E de que valia sacrificar o conforto com dois-semi-guidões e pedaleiras recuadas se a CBR 500R não desempenhava o papel de uma verdadeira esportiva? Com isso, muitos acabavam preferindo a versão naked, que usa o mesmo motor, mas é mais confortável; ou a CB 500X, mais versátil.

Concorrência ferrenhaEsportiva de 500cc da Honda enfrentou primeiro a Kawasaki Ninja 300

Desde quando chegou ao mercado, a Honda enfrentou a concorrência da Kawasaki Ninja 300 no segmento de esportivas de entrada. A "Ninjinha", apesar do motor menor, entregava 39 cv de potência máxima a 11.000 rpm. Não é um número tão empolgante para uma esportiva, mas em compensação a Ninja 300 era mais leve (172 kg em ordem de marcha contra 182 kg a seco da 500R) e mais barata. Em 2016, por exemplo, a CBR 500R custava R$ 29.000, enquanto a Kawasaki vendia a Ninja 300 ABS por R$ 21.990.Yamaha R3, com 42 cv, chegou em 2015 e, desde então, lidera segmento de esportivas

Nesse meio tempo, a concorrência também aumentou. Em 2015, a Yamaha trouxe para o Brasil a também bicilíndrica YZF-R3. Equipada com um motor de 321 cm³ que produzia 42 cv de potência a 10.750 rpm, a R3 chegou por aqui com preço sugerido de R$ 19.990 (R$ 21.990 com ABS) e com um visual moderno. Desde então, a miniesportiva da Yamaha tem liderado a preferência do consumidor e o segmento Sport – em 2018 foram vendidas 1.423 unidades da R3 contra apenas 654 da CBR 500R. A concorrência feroz fez com que a Honda abaixasse drasticamente o preço da CBR 500R em 2017: caiu dos R$ 29.000 para R$ 24.900, mas nem isso foi suficiente.Equilibrada e divertida, Honda CBR 500R sai de linha, mas não deve deixar saudade

Para piorar a situação do modelo, no ano passado, a Kawasaki trouxe a Ninja 400 para o Brasil com diversas novidades, a começar pelo seu motor maior (399 cm³) e mais potente: produz 48 cv a 10.000 rpm. Ou seja, quase o mesmo desempenho da CBR 500R, mas com um peso ainda inferior: 168 kg em ordem de marcha. E o preço da Ninja 400 – R$ 23.990 – ainda era inferior ao da esportiva da Honda.

Com baixo volume de vendas, posicionamento de preços equivocado e uma concorrência acirrada a Honda CBR 500R acabou ficando para trás no segmento. E agora sai de linha. Pelo jeito, não vai deixar saudades. (Por Arthur Caldeira)

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Arthur Caldeira, jornalista e motociclista (necessariamente nessa ordem) fundador da Agência INFOMOTO. Mesmo cansado de ouvir que é "louco", anda de moto todos os dias no caótico trânsito de São Paulo.

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