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Conheça a moto do único brasileiro no TT da Ilha de Man

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03/06/2014 15h39

O que é necessário fazer em uma superesportiva para encarar a corrida de rua mais difícil do mundo? Fomos conhecer e acelerar a CBR 1000 RR TT do piloto Rafael Paschoalin no Autódromo de Interlagos (SP)

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Imagine viajar os 360 km que separam São Paulo (SP) e Ribeirão Preto (SP) em uma superesportiva sem limite de velocidade e com estrada livre. Entretanto, leve em conta que todos os perigos – cabines telefônicas, postes, guias, muros, casas, bueiros e até animas cruzando a pista – estarão lá. Você toparia? Essa é a missão do piloto Rafael Paschoalin, que irá encarar pela segunda vez a corrida de rua mais famosa do mundo, o Tourist Trophy (TT) da Ilha de Man. Localizada no Mar da Irlanda, mais precisamente entre Inglaterra, Escócia e Irlanda do Norte, a pequena ilha recebe a prova há mais de 100 anos. Com um percurso de 60 km e 256 curvas por volta (a prova conta com seis voltas no total), o TT desafia pilotos e máquinas, que lutam contra o tempo para vencer as dificuldades do trajeto.

Superar os desafios dessa competição exige preparação física e mental. Além disso, a motocicleta recebe atenção especial para suportar as seis voltas e pronta para alinhar nas diferentes categorias – o paulistano correrá em três: Superstock, Sênior e Superbike. Para saber um pouco mais sobre o que o espera no Mar da Irlanda, passamos um dia no circuito de Interlagos, em São Paulo, com "Rafa" e sua Honda CBR 1000RR TT ano 2012. Além de conferir as mudanças feitas na moto, pudemos dar algumas voltas nesta máquina para ver, na prática, o comportamento da superbike da Honda que sofreu várias modificações.

Preparação
Segundo Paschoalin, a motocicleta ideal para o TT é aquela que mescla, com perfeição, desempenho e durabilidade. A moto tem que permanecer com um bom rendimento mesmo depois de rodar 360 km a uma velocidade média de mais de 200 km/h. E essa é a justificativa da escolha da moto que irá usar neste ano. "A Honda CBR 1000RR é uma das melhores motos para o TT. Possui um confiável motor de quatro cilindros em linha e sua ciclística é invejável".

410ESPECIAL_HONDA_CBR_1000RR_TT_11Os mecânicos da Santa Cruz Racing fazendo acertos na suspensão dianteira Öhlins da CBR 1000RR TT

Para encarar as ondulações, buracos e outros obstáculos só encontrados em uma corrida de rua, um dos itens mais importantes é a suspensão. Originalmente, a Honda CBR 1000 RR 2012 vem equipada com garfo telescópico invertido Big Piston Fork (BPF) com 110 mm de curso na dianteira e monoamortecedor Showa com 138 mm de curso na traseira. Ótimos equipamentos, sem dúvida.

Mas para garantir o melhor rendimento nas corridas de rua, Paschoalin substituiu o conjunto original por um desenvolvido especialmente para a prova. Cartuchos Mupo na dianteira e monoamortecedor também Mupo na traseira deixaram a resposta da motocicleta ainda mais "aguçada". Para onde o piloto aponta, a superbike vai, sem pestanejar, com precisão e agilidade. O acerto foi feito pelo especialista em suspensão da equipe Santa Cruz Racing, Lucas Albuquerque, jovem mecânico que fez um curso na sede da fabricante, na Itália.

Além do conjunto de amortecimento, os pneus foram substituídos para garantir desempenho e durabilidade. Dessa forma, Paschoalin e sua equipe equiparam a CBR 1000RR TT com pneus da Metzeler. Na dianteira, o Racetec K1 de medidas 120/70 R17 e, na roda traseira, Racetec K2 190/55 R17. A diferença entre eles é o composto. Na dianteira é mais macio que na traseira, sendo K1 "soft" (macio) e K2 "medium" (médio). Segundo Rafa, "os pneus são importantíssimos em corridas de rua. Não adianta nada ter muita aderência inicial se ao fim das seis voltas acabarem os pneus. O desgaste tem que ser progressivo".

410ESPECIAL_HONDA_CBR_1000RR_TT_03Com as novas suspensões Öhlins, a CBR 1000RR de Paschoalin ficou ainda mais precisa nas curvas (Luciano Sampafotos)

De fábrica, o tanque de combustível da CBR 1000 RR 2012 conta com 17,7 litros de capacidade. No entanto, para completar os 360 km de cada prova, a moto ganhou um compartimento com 24 litros de capacidade. Isto influencia diretamente no comportamento e no centro de gravidade da moto. "Na primeira volta, o tanque está cheio e o pneu está frio. A roda dianteira fica mais "pesada" e a mudança de direção é mais lenta. No entanto, essa característica vai desaparecendo conforme o combustível vai sendo consumido. Mas o piloto tem que saber lidar com isso para não se dar mal no final da prova", explica o piloto.

Ao receber as carenagens de competição, a Honda CBR 1000 RR 2012 de Paschoalin, número 88, emagreceu alguns quilos. Originalmente, a máquina nipônica sai de fábrica com 178 kg a seco. Após ganhar a nova roupagem de fibra de vidro, perdeu 13 quilos, ficando com 165 kg. Além de deixar a moto mais ágil nas mudanças de direção, as novas carenagens aumentam a capacidade de "cortar" o vento com mais facilidade, diminuindo o arrasto aerodinâmico.

Por isso, e também pelas mudanças no conjunto motriz, os freios tiveram que receber "upgrades". O diâmetro dos discos dianteiros e traseiros permanece o mesmo: 320 mm na frente e 220 mm atrás. Contudo, as bombas do freio foram substituídas e agora são da marca italiana Brembo. Os flexíveis são em malha de aço (aeroquip) e as pinças continuam as mesmas, da marca Tokiko. A resposta dos freios ficou mais sensível e sua potência foi aumentada. Isso permite que o piloto "atrase" um pouco a frenagem na entrada das curvas.

410ESPECIAL_HONDA_CBR_1000RR_IOMTT_PASCHOALIN_08Rafael Paschoalin (à esq.) e seu mecânico levam a CBR 1000RR TT para vistorias do TT 2014

O paulista de 30 anos irá participar de três categorias no TT da Ilha de Man neste ano, Superstock, Superbike e Sênior. Por isso, sua motocicleta deve estar adequada ao regulamento de todas as categorias. A única diferença entre elas em relação a restrições é a Superstock, na qual as modificações no motor são limitadas.

Dessa forma, a Honda CBR 1000RR TT de Paschoalin traz injeção eletrônica PGM-DSFI (de fábrica), mas agora conta com auxílio de módulo Power Commander. Ganhou também novo sistema "full" de escapamento da Jeskap, filtro de ar de competição da marca K&N e teve os cabeçotes do motor retrabalhados. Com essas mudanças, o propulsor de quatro cilindros em linha, DOHC, 16 válvulas, com 999,8 cm³ de capacidade e arrefecimento líquido ganhou alguns cavalos de potência e um torque maior. Agora são 185,1 cv a 12.200 rpm e torque máximo de 11,7kgf.m a 8.800 rpm contra antigos 178,1 cv a 12.000 rpm e 11,4 kgf.m a 8.500 rpm da versão original. Ficou melhor em altos giros, onde o motor irá trabalhar quase toda a prova.

Além disso, a superbike preparada para o TT da Ilha de Man ganhou itens inexistentes na versão de série. Controle de tração GripOne Pro II com sensores de rodas e inclinação, que garantem um maior domínio da máquina. "Sem a eletrônica, seria impossível manter uma velocidade média de mais de 200 km/h no TT da Ilha de Man. Atualmente, um bom controle de tração é um dos itens essenciais para quem quer participar de corridas de rua", disse Paschoalin. Sua CBR ganhou ainda um radiador de óleo extra para arrefecer melhor o motor.

410ESPECIAL_HONDA_CBR_1000RR_TT_10A bordo da Honda CBR 1000RR TT número 88, Paschoalin acelera nos treinos para a edição 2014 do IOMTT

Metas
Com novos patrocinadores, Paschoalin traçou a meta de ficar entre os 40 primeiros na categoria Superstock e ganhar experiência para as próximas provas. "No ano passado realizei o meu sonho ao estrear no TT e agora quero dar mais um passo adiante. Aprendi, amadureci e o meu objetivo em 2014 é completar a prova entre os 40 melhores na categoria Superstock, na qual mais de 80 pilotos se inscrevem todo ano. Quero evoluir ano a ano até estar em totais condições de brigar pela liderança com os grandes nomes do TT", projeta Paschoalin. As provas começam no sábado, 31 de maio, e vão até sexta feira, 6 de junho.  (Por Roberto Brandão Filho/Fotos Divulgação)

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Arthur Caldeira, jornalista e motociclista (necessariamente nessa ordem) fundador da Agência INFOMOTO. Mesmo cansado de ouvir que é "louco", anda de moto todos os dias no caótico trânsito de São Paulo.

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