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Taiwan não é a China

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10/04/2012 18h37

Vista do edifício Taipei 101, segundo maior do mundo, na capital de Taiwan

O nome oficial de Taiwan é República da China por mais que a China (a da República Popular) não goste dessa nomenclatura. A história é complicada, mas vou tentar resumir: depois que Mao Zedong (ou Tsé-Tung se preferir) e o Partido Comunista  fundaram a República Popular da China em 1949, os integrantes do Partido Nacionalista, o Kuomitang, se refugiaram na ilha de Taiwan e mantiveram o nome de República da China. O país era reconhecido por diversas nações e, inclusive, foi um dos membros fundadores da ONU, onde ocupou uma cadeira permanente no Conselho de Segurança até 1971, quando a tal China continental reivindicou seu lugar. Hoje, o tal princípio de uma só China ainda vale e o reconhecimento de Taiwan como um país independente é limitado… Mas intrigas políticas à parte, o fato é que Taiwan não é a China.

Scooters são maioria esmagadora em Taiwan

Pode até parecer, mas não é. Afinal a etnia é a mesma, a língua oficial também é o mandarim – porém em Taiwan o alfabeto utilizado é o chinês tradicional, enquanto a China adotou um alfabeto simplificado -, a comida é bastante semelhante, mas há diversas diferenças. A começar pelo trânsito. Enquanto no continente, as cidades chinesas são caracterizadas por um buzinaço muitas vezes irritante, nas ruas taiwanesas dificilmente ouve-se alguém buzinar – pelo menos durante a semana que passei rodando o País de norte, na capital Taipei, a sul, na cidade de Kenting.

Os pequenos scooters têm preferência na saída de semáforos

Outra diferença são os veículos de duas rodas. Enquanto na China há muitas cidades que proíbem a circulação de motos, em Taiwan elas podem circular em todas as cidades. Porém em ambos os países não se pode rodar de moto nas rodovias e estradas. Isso fez com que a frota de duas rodas em Taiwan seja formada praticamente somente por scooters. Muitos scooters. Em diversos locais, inclusive parques públicos, há estacionamentos reservados aos scooters, até mesmo com postos de recarga para os scooters elétricos. Além disso, há um local preferencial para os scooters nas saídas de semáforos e ainda um espaço reservado para scooters fazerem conversões em grandes avenidas. Apesar de parecer uma bagunça, notei que o trânsito funciona. Os taiwaneses em geral pilotam em menor velocidade e são bem mais tolerantes que os motociclistas e motoristas brasileiros.  Para se ter uma ideia do enorme mercado, em 2011 foram vendidos 1.206.179 veículos de duas rodas – quase que somente scooters. Quase não se vê motos nas ruas, muito em função da proibição de veículos de duas rodas na estrada. Posso contar nos dedos de uma mão quantas motocicletas avistei. Mas isso deve mudar.

Parques e diversos locais têm estacionamento para os veículos de duas rodas

Tanto que o motivo da minha viagem à Taiwan foi o lançamento da Dafra Next 250, produzida pela SYM. Vislumbrando a mudança na legislação taiwanesa, a SYM, segunda maior fábrica de scooters de Taiwan, atrás apenas da Kymco, apresentou a T2 (nome da Next no mercado local). Tudo indica que, a partir de setembro, o governo deve  liberar motos acima de 250cc nas estradas e também vai exigir uma nova carteira de habilitação para quem quiser rodar nas rodovias.

Para facilitar a vida dos scooters, há um espaço para conversões em grandes avenidas

Além disso, outra grande diferença entre China e Taiwan é que a pequena ilha de cerca de 36.000 km² sempre esteve mais aberta economicamente. O processo de industrialização pelo qual hoje a China passa Taiwan já o enfrentou há algumas décadas. Tanto que a própria SYM já produziu scooters Honda até meados da década de 90 e essa experiência fez com que as indústrias taiwanesas crescessem do ponto de vista tecnológico e de processos. Para se ter uma ideia, 94% dos notebooks vendidos em todo o mundo são fabricados em Taiwan. A Foxconn, famosa por produzir iPads e Iphones, é chamada erroneamente por muitos de chinesa, mas tem sede em Taiwan. Vale lembrar que Taiwan era um dos quatro tigres asiáticos – ao lado de Hong Kong, Coreia do Sul e Cingapura.

Fábrica da SYM em Hsinchu produz cerca de 250.000 scooters por ano

Como resultado disso, as indústrias taiwanesas adotam processos mais modernos e têm um controle de qualidade maior do que suas concorrentes chinesas. Isso até gera desconfiança por parte dos taiwaneses de que os chineses – que precisam de visto para entrar em Taiwan – vão até lá para espionar os segredos industriais.

Fachada do centro de pesquisa e desenvolvimento da SYM, o interior não pôde ser fotografado

Nós visitamos a fábrica e o centro de Pesquisa e Desenvolvimento da SYM em Hsinchu e confesso que se assemelham muito às fábricas japonesas de motos instaladas aqui em Manaus. Quando comentei que o laboratório de testes era semelhante ao que tinha visto no Brasil com um funcionário da SYM, ele me revelou em bom inglês: "Mas é claro! Compramos tudo isso da Honda!". Ou seja, os taiwaneses tentam se espelhar nos nipônicos: reconhecidamente os melhores do mundo em processos industriais e controle de qualidade. Lembro-me que, no início dos anos 2000, alguns produtos Kymco foram vendidos no Brasil e chegaram até mesmo a fazer sucesso. Outro bom exemplo é o próprio scooter Citycom 300i, também da SYM e vendido no Brasil pela Dafra. Em 2011 foram vendidas mais de 2.000 unidades do Citycom. É difícil de explicar, mas fácil de entender para quem já visitou os dois países. Taiwan pode parecer a China, mas não é. (texto e fotos Arthur Caldeira)

Palácio da Justiça em Taipei, capital de Taiwan. Note que a bandeira é diferente da chinesa

O trânsito parece uma bagunça, mas funciona e é silencioso

Scooters infestam as ruas de Taiwan

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Arthur Caldeira, jornalista e motociclista (necessariamente nessa ordem) fundador da Agência INFOMOTO. Mesmo cansado de ouvir que é "louco", anda de moto todos os dias no caótico trânsito de São Paulo.

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