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Instrutora de moto escola supera assédio e preconceito e vence concurso

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07/03/2020 04h00

Regiane Marangne exerce a profissão há dez anos e já foi vítima de preconceito até de outras mulheres

O trabalho da instrutora de trânsito Regiane Marangne, 34 anos, começa às sete da manhã com aulas práticas de moto ou carro. Seus alunos não têm padrão de idade, escolaridade, sexo ou classe social. Em comum apenas a ansiedade de conseguir a sonhada "carta" ou CNH (Carteira Nacional de Habilitação).

Mas, para isso, dependem da instrutora, também formada em psicologia, para conhecer e dominar o veículo, treinar e passar no exame prático. "Sempre gostei de ensinar, quando me tornei instrutora foi uma grande realização", afirma a moradora de Jundiaí (SP) que exerce a profissão há dez anos e venceu o concurso "Instrutora Nota 10", promovido pela revista Moto Escola, com apoio da Honda e do Sindicato das autoescolas e CFCs do Estado de São Paulo.

Mercado de trabalhoEntre os cinco finalistas do concurso Instrutor Nota 10, Regiane era uma das duas mulheres

Os números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que muitas mulheres trabalham "fora". Em 2019 havia 48 milhões de mulheres exercendo atividades remuneradas contra 58 milhões de homens. Apesar do equilíbrio no cenário nacional, a função de instrutor de trânsito é predominantemente masculina.

"Em Jundiaí existem quase 100 instrutores, mas apenas dez são mulheres", lembra Regiane que começou a ministrar aulas teóricas aos 24 anos. "Muita gente me achava novinha e duvidava da minha capacidade". Ela lembra que um grupo de alunos a testava para desafiar sua autoridade e conhecimentos. "Aos poucos fui me impondo", conta ela.

Assédio na garupa

Outras dificuldades surgiram quando ela começou a dar aulas de moto. "Eu tinha que levar os alunos na garupa e alguns se aproveitam, numa clara atitude de assédio". O fato a incomodava e fez com que ela quase desistisse. "Hoje, se percebo uma atitude mais ousada, olho feio e peço para o aluno ficar mais distante", ensina.

O preconceito também era visível entre os colegas de profissão. "Muitos duvidavam que eu soubesse dirigir carros, pilotar motos, ou que pudesse ensinar", mas, aos poucos, o conceito foi mudando, afirma Regiane.

Preconceito até de mulheres

A desconfiança da capacidade feminina existe até mesmo entre as mulheres. A empresária Adaiane Marangne Pereira da Silva, proprietária do CFC Hortolândia, relata casos de alunas que não querem ter aulas com instrutoras. "Algumas ainda preferem instrutores homens".

A presença masculina também é marcante na diretoria das auto escolas. "Entre os 28 CFC´s de Jundiaí, apenas quatro pertencem a mulheres", destaca a empresária.

Na opinião do presidente do Sindautoescola.SP (entidade que reúne os proprietários de auto escolas e CFC´s do Estado de São Paulo), Magnelson Carlos de Souza, esse cenário está mudando. "A mulher vem se destacando e assumindo protagonismo em várias áreas. No setor de autoescolas não é diferente".

Ele afirma que a participação crescente das mulheres contribui para diversificar e aprimorar a formação dos novos condutores.

Educação que transformaA psicóloga e instrutora acredita que falta educação e respeito às leis para melhorar o trânsito

Mãe de uma menina de seis anos, Regiane fala sem hesitar que o grande problema no nosso trânsito é a falta de educação. Ela é taxativa ao afirmar que sem educação é impossível reverter o quadro atual. "O cidadão não se porta de forma civilizada, não sabe esperar, não respeita as leis. Atitudes assim acabam em acidentes. As crianças deveriam aprender sobre o trânsito ainda na escola, isso salvaria vidas no futuro" conclui Regiane.

Como forma de valorizar esses profissionais, a Revista Moto Escola, com o apoio da Honda e do Sindautoescola.SP, promoveu o Concurso Instrutor Nota 10. Regiane se inscreveu junto com outros 800 colegas de profissão.
Eles assistiram vídeos educativos, participaram de um "Quiz" e criaram frases sobre a importância do instrutor para a melhoria do trânsito. Regiane acertou as questões e sua frase foi uma das escolhidas pela Comissão Julgadora para a grande final.Promotores e organizadores do Concurso "Intrutor Nota 10", que reuniu cinco finalistas no Centro Educacional de Trânsito Honda em Indaiatuba (SP) 

A prova, que reuniu cinco finalistas, entre elas duas mulheres, aconteceu no Centro de Educação de Trânsito Honda, em Indaiatuba (SP), em 31 de janeiro. Os candidatos deveriam mostrar conhecimentos teóricos e habilidade de pilotagem.Vitória feminina: Regiane sagrou-se o concurso Instrutor Nota 10 e levou para casa uma Honda CG 160 Fan

Sob olhares atentos dos instrutores da equipe Honda, Regiane demostrou frieza na prova teórica, equilíbrio e ritmo nos testes práticos de pilotagem. Ela terminou com o menor número de pontos perdidos, ganhou o título de Instrutora Nota 10 e, de quebra, levou para casa uma moto Honda CG 160 Fan "zero km". Prova de que temos muito a aprender com elas. (Texto Cicero Lima/Fotos Mario Villaescusa e Fabiano Godoy)

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Arthur Caldeira, jornalista e motociclista (necessariamente nessa ordem) fundador da Agência INFOMOTO. Mesmo cansado de ouvir que é "louco", anda de moto todos os dias no caótico trânsito de São Paulo.

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